quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A relação entre a periodização Benjaminiana e o viés positivista de tempo.

     Primeiramente, é importante deixar claro que a visão de tempo de Walter Benjamin é bastante diversa da noção de temporalidade do historicismo burguês e da história universal. Isto, porque essas concepções históricas carregam consigo a crença inefável no progresso da humanidade. A ilusão, segundo Benjamin, de que o futuro remete sempre à melhoria do gênero humano. A história mostrada é aquela que se deseja mostrar, a chamada "História dos Vencedores", direcionada por ideologias e outras crenças.
    Mais do que isso, em tais concepções, o tempo sempre possui as mesmas características de linearidade, homogeneidade e superficialidade. Nesse sentido, o passado é uma mera acumulação, como algo que serve como justificação do futuro, algo imóvel, morto, acabado e, por isso, plenamente acessível, inescapável. O tempo então passa a ter uma extensão infinita, mas sem conteúdo. Walter Benjamin então revela a importância do resgate do passado como função emancipadora na comprenssão do tempo presente.
    Para Benjamin, o tempo presente não é uma mera transição do passado e por-vir, mas sim algo singular que se perpetua no tempo, se imobiliza e revela um sentido. O tempo presente então seria uma abreviação da totalidade. O presente então só é concebido, através da compreensão de que contém relações com a história da humanidade. Nesse sentido, o presente não é simplesmente a subsequencia do passado, mas uma singularidade que carrega as experiências mais importantes de todo o passado, dando um sentido específico ao momento. Em outras palavras, o presente é tanto o momento, como o local da realidade do passado.
    Nesse entendimento, é que se vê a história como ruína, como a falência do pensamento do progresso humano, pois que se apresneta na versão dos "vencedores" como justificativa do futuro, quando, na verdade, se vista pela análise dos oprimidos, vê-se que não houve evolução. Não se trata de trazer a concepção de tempo sobre outra vertente, mudando-se a figura de "vencedor", mas em ver, sob esse enfoque que há uma efetiva possibilidade de mudar a realidade.
   Nessa vertente é narrada a metáfora do anjo benjaminiano: o anjo benjaminiano representa o jornalista/historiador que consciente dos processos históricos fica horrorizado diante da cadeia de acontecimentos posta fatídicamente, sem aprofundamento, mascarada, manipulada. Ainda que vislumbre a elucidação dos processos históricos (o "paraíso") suas asas ficam impotentes em decorrência das forças opressoras do sistema (o "progresso") e ele nada pode fazer, embora assuma a missão de romper com essa temporalidade, ainda que essa tarefa seja árdua.
     É nessa mesma linha de raciocínio que o autor Cláudio Jorge desenvolve sua matéria. A real análise histórica dos acontecimentos e fatos requer uma visão diferente de temporalidade. Diferente no sentido de romper com a periodização clássica de reprodução cronológica do passado, influenciada por correntes de pensamentos repressivos. Isso porque a temporalidade defendida pelo autor é aquela vinculada com a problematização do presente, já que, sem tal relação, torna-se superficial e mascarada. Nesse sentido, a temporalidade significa a relação do passado com o presente, numa tentativa de buscar a essência histórica problematizando suas semelhanças e divergências com a contemporaneidade. 
      A desconstrução da periodização histórica clássica (entendida aqui como a reprodução cronológica dos fatos e acontecimentos históricos, através de períodos que engendram determinadas filosofias, correntes de pensamento outras características aparentemente semelhantes) é um processo essencial para que se tenha a verdadeira noção das passagens históricas e o que elas representaram, pois através dessa desconstrução, livra-se a análise das correntes ideológicas de grupos dominantes (como o etnocentrismo, por exemplo).
    Numa relação com o viés positivista do estudo da história, encontra-se o mesmo vazio, caracterizado por Walter Benjamin, no que diz respeito ao passado. Isto porque, o método de análise cinetífica porposto pelo positivismo, ao direcionar o pesquisador a uma neutralidade, afastando-se do real entendimento de sua pesquisa, acaba por transformá-lo em demonstrador de fatos e teorias impregnadas por tal viés, ao invés de fazê-lo descobrir o real sentido do objeto.    
    A notícia contemporânea mostra-se bastante próxima do viés positivista, tendo em vista que demonstra pouca análise histórica e consequente ausência de estimulação da razão emancipadora dos recptores. É certo que alguns meios, quase sempre de pouca notabilidade, tentam romper com esse paradigma e elucidar seus receptores a partir de uma abordagem diferenciada, mais precisamente numa vertente material-histórica. Todavia, a neutralidade, em sua concepção positivista de pesquisa, também se esvai.
    Seria necessário, portanto, rever tal conceito de neutralidade, descaracterizando-o como fruto do pensamento posivitista de imparcialidade, já que representa verdadeira utopia. Já em se propondo neutralidade como a busca do real na história humana, como o compromisso de tratar a história sobre todas as vertentes possíveis, possibilitando uma análise real e esclarecedora, parece ser o melhor caminho para a conceituação do termo, bem como a principal característica de alguns (e pouquissimos!) meios de comunicação.

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