quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Antropologia: O Contato enquanto fricção interétnica.


         Depois 1960, após a observação da interação entre índios e não-índios, isto é, entre índios e a sociedade nacional, etnólogos brasileiros verificaram que as teorias que tentavam explicar o resultado dessa interação, como por exemplo, a teoria da aculturação, não eram mais suficientes.
            Isto porque diferentemente de como preconizavam essas teorias, os índios brasileiros não perderam sua identidade étnica e nem  foram assimilados pela sociedade nacional. Nesse contexto, surge a teoria da fricção interétnica como uma crítica à teoria da aculturação e como teoria capaz de explicar tais resultados.
            A teoria interétnica tem foco no estudo as relações sociais que acontecem dentro das sociedades que interagem, afastando a ênfase da orientação cultural para uma orientação sociológica, já que na interação, segundo a teoria, tais relações é que determinam os resultados observados, em relação à difusão, transmissão e assimilação do “patrimônio cultural”.
            A concepção e abordagem de estudo da teoria interétnica é sistêmica, isto é, deve-se observar as sociedades que relacionam como um sistema, que se forma depois do contato, através de relações de oposição. Para Cardoso de Oliveira, após o contato, há uma existência co-participativa forçada entre duas sociedades dialeticamente opostas, que possuem interesses diametralmente opostos, o que acaba irradiando na mudança da economia, da ordem política e da organização social. Todavia, tais mudanças ocorrem porque cada grupo étnico acaba por reorganizar tais estruturas dentro de sua sociedade, de forma independente, com a finalidade de manter o curso do contato, de maneira ao menos razoável, dentro do sistema.
            Desse modo, “as transformações sofridas pelas sociedades em contato interétnico não são os resultados da influência da cultura de uma sobre a outra, nem o produto de uma criação comum determinada pelos fatores postos em interação pelos grupos étnicos”.
            Assim, a análise das relações sociais se torna mais importante para compreender o prognóstico das sociedades em contato do que o fator cultural. Portanto, para uma operacionalização da teoria é necessário que haja uma análise de três níveis determinantes das relações entre as sociedades: o nível econômico, o nível social e o nível político.
            O nível econômico determina o grau de dependência do índio dos recursos econômicos potos ao seu alcance pelo não-índio e vice-e-versa. O nível social traduz-se na capacidade de manter um mínimo de organização, com a orientação dos membros para os fins, os quais são antagônicos. Já o nível político analise a natureza das relações de poder ou autoridade de um grupo sobre o outro, no sentido de dominação e reação.
       É na interação que os níveis passam a se modificar, a se restruturar. O nível social tem uma preponderância na análise sistemática, porque ao representar  a orientação dos membros para fins antagônicos,  tem na persistência dessa orientação, frente aos interesses do outro grupo, uma forma de sobrevivência do grupo e que não o faz perder a identidade étnica.

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