segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Resumo do livro: "Argumentação contra a Morte da Arte" de Ferreira Gullar.


O primeiro capítulo da obra de Ferreira Gullar, “O fim da arte”, expõe o novo imaginário crítico que se sucedeu após o impressionismo e que ainda influencia a contemporaneidade. Isso porque, mesmo contra a vontade dos críticos conservadores, o movimento alcançou sucesso, e aqueles acabaram por rever seus pontos de vista e “abrir os horizontes” de suas críticas.
            Mais do que isso, o contexto social que se desenvolveu após esse processo, com a consolidação do capitalismo e da massificação da cultura, tornou oportuna a qualificação de uma obra como artística. Não só pelo fato de a crítica, com base em valores doutrinários e teóricos sobre a arte, ainda ser duramente reprimida, como também pela própria necessidade do sistema capitalista em tornar tudo consumível e descartável.
            Novas formas de “arte” surgem para gerar o interesse do consumo e movimentar a economia, ao passo que se tornam obsoletas em pouco tempo. Se a constante análise crítica dos tempos do impressionismo tivesse perseverado atrapalharia esse o comércio e conseqüentemente seria ilógico em relação aos anseios da indústria cultural.
            Nessa problemática, o autor debate sobre o fim da essência da arte, em virtude das imposições do sistema capitalista que impregnam a mente dos artistas e estes deixam de lado o senso espiritual e prático que originalmente seriam responsáveis por obras realmente belas e artísticas.
 O autor reafirma teoricamente que o comportamento da sociedade em relação à arte se modificou, em razão do grande avanço tecnológico do séc. XX, que tornou ávida a busca pelo novo, pelo futuro, desvalorizando o passado e suas implicações no presente.
            Gullar aduz que o artista e a indústria são incompatíveis, pois aquele preza pela qualidade e não pela quantidade, razão pela qual as artes não precisam de uma padronização para se tornarem mais adequadas ou mais eficazes quanto ao resultado do trabalho.
            A “arte descartável” tem em si o propósito maior da popularidade, isto é, da repercussão pela mídia, da fama, glorificando o êxito exterior, em detrimento da busca interior e aprofundadora do processo de realização da obra. Tal anula o juízo crítico.
            Para o autor, houve uma desconstrução da linguagem artística, em que não há mais o que ser destruído. O importante agora é repensar a arte como uma grandiosa invenção humana, que enriquece a sociedade, devendo ser livre e desimpedida, dando a base para os artistas e para as obras.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Resumo do 1° capítulo da obra: O Briefing da Ética, de Gino Murta


         O primeiro capítulo da obra “O Briefing da Ética”, de Gino Murta, inicia narrando dois acontecimentos distintos que servem como ponta-pé inicial para uma reflexão acerca da ética.
            O autor então a define como sendo “a parte da filosofia que tem como foco de estudo a relação do indivíduo com o outro, seus procedimentos e conseqüências”. Faz referências a filósofos como Aristóteles, Sócrates e Kant, demonstrando que definiam a ética como sendo a doutrina do viver para termos, todos, uma boa vida, no sentido coletivo e universal.
O autor afirma que a ética aborda ações humanas que geram conseqüências em outras pessoas. Nessa última categoria, Murta enquadra o discurso publicitário e propõe, através da obra, a uma referência de questionamento que anteceda as ações publicitárias, por ser este o papel da ética - e não dizer o que é certo ou errado, ou o que é ético ou deixa de ser.
Em seguida, o autor continua a discorrer sobre a Ética, falando sobre a origem do vocábulo na palavra grega ethos que significa “propriedade de caráter”.  Gino Murta relembra da importância que a ética começou a ganhar a partir de 1980, quando foi reposicionada com o campo da Filosofia e das Ciências Sociais, ocupando lugar de destaque. Segundo ele, a ética “procura identificar os procedimentos que se justificam e merecem ser conservados e os que precisam ser evitados para garantir o comportamento humano dentro dos princípios e valores universais.”
Assim, a atitude ética publicitária nada mais seria do que “criar campanhas que procurem tornar o ser humano realmente melhor, maduro e mais consciente de sua importância e da dignidade de sua existência.”
No final do primeiro capítulo, o autor relata historicamente a evolução na implementação da ética no âmbito empresarial. Começando por 1960, com a iniciativa dos alemães, e quando se começou a direcionar os trabalhadores aos conselhos da administração da empresa.
Na década de 1970, surge a ética Empresarial como disciplina aplicada aos negócios. Nessa época, houve a expansão das empresas, que se tronaram transnacionais e que, por isso, houve a necessidade de criação de códigos de ética internos. Em 1980, houve o lançamento da primeira revista científica sobre o tema da Ética Empresarial, bem como a formação de redes acadêmicas que tinham por objetivo universalizar o conceito de ética no mundo dos negócios.
No fim do milênio, foram criadas ONGs e Associações que contribuíram na propagação do conceito universal de ética empresarial, propondo às mesmas uma transcendência nos objetivos empresariais, não interessados apenas no lucro, mas também em oferecer um ambiente gratificante, em que as pessoas possam desenvolver seus conhecimentos pessoais, profissionais e ainda, suas virtudes – abordagem aristotélica.

Análise de Caso Antético: Clodovil Hernandez


No ano de 2006, o deputado federal Clodovil Hernandes (PTC-SP), figura pública, não só pelo seu cargo político, mas também por sua atuação no meio artístico e de comunicação (com numerosos trabalhos na televisão e no rádio), deu uma entrevista a rádio Tupi, na qual alegou a “manipulação” do holocausto e dos ataques de 11 de setembro, pelos judeus e pelos americanos, respectivamente.
            "Evidente que foi (armado) pelos próprios americanos, não seja idiota, é como o Holocausto, você acha que não tinha nenhum judeu manipulando isso por debaixo do pano? Mas isso não significa que eu esteja falando mal de nada." – disse o deputado.
 Clodovil disse também à rádio carioca que existe um "poder escuso, que está no subsolo das coisas". "As pessoas são induzidas a acreditar. Quando houve aquele incidente com as torres gêmeas lá não tinha americano nenhum e nem judeu", afirmou.
Na matéria intitulada “CLODOVIL TENTA RETIRAR DECLARAÇÕES SOBRE HOLOCAUSTO” disponível no site G1, Clodovil negou que deu a declaração desse modo e aduziu que não seria um "imbecil de falar dessa forma". Ainda nessa matéria, há a declaração do presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista, rabino Henry Sobel sobre o assunto:
"É uma provocação, é uma ofensa, reflete ignorância histórica. (Serão acionados) todos os canais com o governo federal e se necessário até o presidente da República”. 
Segundo o portal g1, “O rabino não aceita a alegação de Clodovil de ter sido mal interpretado. "Se for mal interpretado, melhor ainda. Ele é responsável por aquilo que falou. Isso não diminui a responsabilidade dele", afirmou.”
A postura do deputado diante de um meio de comunicação foi antiética, pois sua expressão de opinião foi veiculada sem bases verídicas e fundamentadas e em um momento inoportuno, isto é, suas declarações são meramente especulativas, decorrentes de um “achismo” e que, por esse motivo, ofendeu claramente aos grupos culturais dos judeus e dos americanos. Vê-se claramente que o deputado não refletiu sobre suas declarações antes de expô-las e agiu sem o devido comedimento.
Esse tipo de opinião deve ser delicadamente tratado, pois envolve o sentimento de comunidades culturais diversas. Tais declarações podem desrespeitar seriamente os grupos-alvo, pois podem macular suas identidades étnicas e religiosas, devendo, portanto, serem tratados cautelosamente.
Ademais, essas críticas ou teorizações devem sempre vir fundamentadas em dados objetivos e veiculadas a um público especializado, segmentado, numa esfera propícia as suas apreciações, como debates, programas estudantis, documentários, entre outros.

Resumo da obra “Cultura: Um Conceito Antropológico” de Roque de Barros Laraia.


PRIMEIRA PARTE

No princípio da primeira parte, o autor mostra a preocupação de estudiosos em relação a outros povos e compara as várias visões desses pesquisadores de diferentes épocas, embora introduza a premissa de que são insuficientes as explicações do determinismo biológico e geográfico para elucidar o comportamento de tais povos, como afirmavam alguns desses estudiosos.
No primeiro capítulo, o autor deixa claro que compartilha do pensamento de que as diferenças genéticas/somáticas não determinam diferenças culturais, isto é, que o determinismo biológico não influencia o aprendizado e o engendramento de determinada cultura, processo denominado pelo autor como endoculturação.
A mesma linha de refutação é encontrada no segundo capítulo em relação ao determinismo geográfico, que hipoteticamente influenciaria a cultura dos povos, por se encontrarem em espaços físicos diferentes. O autor defende que a cultura age seletivamente e não casualmente e que através de centenas de estudos sobre vários povos, foi possível constatar que mesmo nos mesmos ambientes, haviam culturas diferentes e que existiam culturas bastante semelhantes em espaços físicos diferentes.
Já no terceiro capítulo da obra, o autor começa a discorrer da historicidade do conceito de cultura, dando continuidade após ter se referido a mesma no final do segundo capítulo como fator de diferenciação da espécie humana em relação às demais. O autor recorre, como ponto crucial, à definição de cultura proposta por Edward Tylor como sendo o “complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e quaisquer outros hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade” , (LARAIA, 2001, Pág. 25), aludindo que tal conceito é uma síntese de vários pensamentos com a mesma linha ideológica, os quais se desenvolveram em vários estudos como os de John Locke, Turgot, Rousseau, autores que tentavam quebrar o raciocínio da relação entre natural e cultural, como domínios que se interagem diretamente. Em seguida, o autor trata das tentativas posteriores de clarificar o conceito
de cultura proposto por Tylor, bem como a definição dos limites desse conceito, o que chegou paradoxalmente a provocar uma confusão da conceituação e a sua desconstrução.
No quarto capítulo, o autor expõe a visão de Tylor sobre o campo da Antropologia Cultural equiparado às ciências naturais, isto é, segundo ele, de acordo com o estudo das culturas, pode-se verificar que esta também possui leis e características de ordem natural, organizadas e embasadas em alicerces elementares, como por exemplo, a "unidade psíquica da humanidade". Nesse contexto, Tylor defende que a Antropologia Cultural tem um objeto de estudo científico, assim como as demais ciências. A grande diversidade de culturas então seria explicada pelo grau desigual do processo de evolução, mas que mesmo assim apresentariam semelhantes características essenciais. Tais conclusões seriam descobertas através de uma análise comparativa histórica, levando-se em consideração os efeitos das condições psicológicas e meios ambientes, método mais tarde chamado de "particularismo histórico" por Boas.
Ainda no mesmo capítulo, o autor expõe as idéias de Kroeber e sua visão do ser humano como único ser capaz de criar seu próprio processo evolutivo, ao "superar o orgânico". Segundo Krober, ao invés de mudar o aparato biológico, a cultura é que seria adaptada aos diferentes ambientes ecológicos. Desse modo, o ser humano foi capaz de perpertuar a espécie ao longo dos anos e transformar todo o planeta Terra em seu habitat. Através da endoculturação, o homem aprende a romper as barreiras das diferenças ambientais e a dar vazão à criação. Assim, cada cultura tem o "gênio" que é capaz de produzir de acordo com suas possibilidades e necessidades. Nessa conjuntura, o autor então passa a refutar temas como os instintos humanos e supervaloriza o processo de comunicação como base para o desenvolvimento da cultura.
Já no quinto capítulo da obra, o autor começa a problematizar a origem da cultura como parte unicamente do ser humano. Nesse ponto, expõe algumas teorias, como a de Leackey e Lewin e o desenvolvimento da visão eteroscópia, bem como a capacidade de pegar os objetos com as mãos (fatores resultantes de uma vida arborícola); a de Pilebam e o bipedismo; Oakley e o desenvolvimento de um cérebro mais volumoso e complexo; Lévi-Strauss e a teoria da invenção da primeira norma; White e a elaboração dos símbolos; Ao final, o autor critica que tais teorias induzem a um aparecimento espontâneo do início da cultura, sendo partidário de que o aparecimento da cultura se deu contínua e lentamente, juntamente com o próprio
equipamento biológico.
As teorias modernas com a missão de restabelecer o conceito de cultura são explanadas no sexto capítulo da obra. O autor se vale do esquema proposto por Keesing, que divide as teorias em dois grandes grupos: as que tratam da cultura como sistema adaptativo (cultura como sistemas de padrões de comportamento socialmente transmitidos, analogia entre mudança cultural e seleção natural, tecnologia e economia de subsistência como bases e reguladores da cultura); e as teorias idealistas de cultura (cultura como sistema cognitivo, como sistemas estruturais, como sistemas simbólicos). O autor finaliza com a idéia de que delimitar o conceito de cultura é conhecer a própria natureza humana, revelando, pois, uma tarefa de perene reflexão humana.

SEGUNDA PARTE

O capítulo inicial da segunda parte traz diversos exemplos de como o ser humano, em decorrência da cultura, pode ter comportamentos diferentes, possuindo o mesmo aparato biológico. A princípio, alguns comportamentos fisiológicos básicos deveriam ser iguais por questões somáticas, como acontecem com os outros seres vivos, mas apresentam grandes diferenças em determinadas culturas, em decorrência do próprio processo de endoculturação, como por exemplo o riso, a sexualidade, o parto, o modo de comer, a própria comida e a visão do espaço,
O segundo capítulo abrange a influência da cultura em questões biológicas mais complexas, determinantes de saúde e de sobrevivência. Exemplos como perda de referências culturais (apatia), crenças, saudades e outros fatores podem interferir no plano biológico dos seres humanos e comprometer seu funcionamento somático equilibrado, levando-os muitas vezes à morte. Já em outros casos, as crenças e hábitos podem ser capazes de curar, restabelecendo o bom funcionamento biológico dos seres humanos. Talvez este seja o capítulo mais interessante da obra, pois revela como determinada cultura é capaz de transpassar barreiras somáticas através do processamento psicológico e solucionar problemas biológicos que em outras culturas pode não ser eficaz.
            No capítulo seguinte, o autor demonstra que a participação de um indivíduo em sua cultura é limitada e diversa. Tanto as limitações como as participações do indivíduo em sua própria cultura podem ser determinadas por diferentes fatores como por exemplo
o sexo, a idade e costumes. Mais do que isso, esses fatores também podem diversificar e limitar papéis de maneira diferente em outras culturas, isto é, papéis desempenhados por determinados indivíduos de uma cultura podem ser desempenhados por outros em outra cultura. O autor ainda acrescenta que nenhum indivíduo é capaz e compreender o seu sistema cultural, mas que é necessário conhecer e englobar para si o essencial do mesmo para que se identifique e possa viver em harmonia consigo e com os demais.
            O quarto capítulo dedica-se a explicar os princípios de juízos e raciocínios de cada cultura como sendo lógicos, por mais que pareçam ilógicos para as outras culturas. Acaba por tratar de que todas as culturas possuem a sua lógica Isto porque, nas palavras do autor, “Muito do que supomos ser uma ordem inerente da natureza não passa, na verdade, de uma ordenação que é fruto de um procedimento cultural, mas que nada tem a ver com uma ordem objetiva.” (LARAIA, 2001, Pág. 89). Assim, a compreensão do mundo em cada cultura é lógica.
            A característica do dinamismo da cultura é tratada no capítulo quinto, tendo como causa principal a capacidade que tem o ser humano de questionar os seus próprios hábitos e modificá-los. Em outras palavras, a cultura é sempre alterada de forma mais rápida ou mais lenta, dependendo de cada cultura, isto porque o ser humano é capaz de rever SUS princípios e sempre busca uma forma de aperfeiçoá-los ou transformá-los. O autor ainda alude a dois tipos de mudança cultural: a interna ( resultante de uma catástrofe,  inovação tecnológica ou uma dramática situação de contato); e a resultante do contato de um sistema cultural com um outro.
            Ao afirmar que todas as culturas estão sempre em constante mudança, o autor demonstra a importância de se entender tal processo, já que se poderá ser mais tolerável aos novos comportamentos e, além disso, com os comportamentos de outras culturas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

                A obra refuta veemente as correntes do determinismo biológico e geográfico como determinantes da cultura de um povo, e convence através de estudos empíricos e análises históricas (método defendido pelo autor) de que a cultura pode se desenvolver das mais variadas (e semelhantes) formas possíveis em qualquer lugar do mundo, sejam eles próximos ou longínquos .
            A cultura é então vista como algo intrínseco ao ser humano, tendo vista que é um ser social. Não existe ser humano sem cultura,  e todos eles são capazes de aprender qualquer cultura, não importando sua raça ou origem. A cultura é tida como diretriz e formadora da visão de mundo de um indivíduo, que sem ela adoece, morre, como quando acometido de uma doença ou quando um órgão essencial para de funcionar adequadamente. E através dela que muitas vezes se curam e ‘e em nome dela que vivem, que se organizam e que buscam.
            Não existe cultura superior à outra, nem mais desenvolvida, nem mais lógica. Todas elas possuem seus princípios válidos para seus respectivos indivíduos. Antes de tudo, todas as culturas têm o mesmo valor. 
            As culturas são responsáveis pelo o homem ser capaz de transpassar os anos, sem a necessidade de modificarem-se somaticamente para resistirem às mudanças ecológicas. E por mais diversas que possam ser, todas obedecem regras elementares e genéricas, que podem ser estudadas com seriedade e cientificidade, para que se possa compreender a maior característica do ser humano, numa tentativa de se conviver pacifica e harmoniosamente.